Cláudio Silva
Quem trafegou na manhã do dia 25 do mês e ano corrente pela orla do Bairro Santa Inês, nas proximidades da pracinha do bairro, deparou-se com uma mensagem de Natal um tanto quanto inusitada. Utilizando-se de pneus, carcaças de fogão, pedaços de geladeira, quadros de bicicletas, garrafas e outros tipos de lixo encontrados às margens do rio Amazonas - maior rio do mundo em extensão e volume d’água - os artistas/ interventores Agostinho Josaphat, Claudio Silva, Dekko Matos, Wagner Ribeiro e Maisa Martinelli desejaram um “FELIZ 2011” à sociedade amapaense.
Trata-se de uma intervenção urbana concebida e executada pelos artistas amapaenses que, abdicando da arte meramente contemplativa, preenchem os vazios deixados por elas, de responsabilidade social. Assim, partem para a concepção de obras onde o mote principal não seja a estética, e sim o conceito, ampliando o leque de discussão acerca da arte contemporânea.
A intervenção foi concebida após contatarem a imensa quantidade de lixo depositada ao longo da orla que deveria servir de atrativo, visando o fortalecimento do turismo local, propiciando um grande salto na cultura e na economia, no entanto, em apenas 100 (cem) metros foram encontrados cerca de 86 (oitenta e seis) pneus e isso sem contar com o odor que se agrava em virtude do desembocar da rede pública do esgoto que, feito cachoeira, deposita todo tipo de impurezas e detritos.
Os artistas reivindicam maior atenção para problemas latentes que se agravam em nosso provinciano estado, em especial o lixo produzido e depositado às margens deste que deveria ser uma fonte inesgotável de riquezas, por sua magnitude e imponência. Ao contrário do que se possa pensar, não se tratam de meras felicitações, em virtude da chegada de um novo ano, e sim de um silencioso protesto, diante da ineficácia das políticas públicas de preservação do meio ambiente e da falta de compromisso dos parlamentares desta terra, que usurpam até mesmo nossa honra, semeando em nossa mente o sentimento de impotência, porém, estes artistas não se renderam, arregaçaram as mangas e deram o pontapé inicial.
Que outros coletivos e/ou artistas possam enveredar por este caminho, colocando sua arte à disposição de quem realmente necessite ver, ouvir e senti-la, propondo novas reflexões sobre problemas que afligem nosso povo.
O autor é Conselheiro Estadual de Cultura e Presidente do Coletivo de Artistas, Produtores e Técnicos em Teatro do Estado do Amapá – CAPTTA
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