sábado, 30 de maio de 2009

O IDIOTA DA OBESIDADE


POROROCAS & PERERÊS

Quando o idiota da obesidade viu o nome do Chico Buarque de Hollanda na internet apoiando o casal Capiberibe, ele pirou o cabeção!


Talvez o leitor de Vanguarda se lembre quando trouxemos na capa da edição nº 8 a foto ilustrando chamada de reportagem especial que escrevi sobre a trajetória de Capiberibe – partindo da clandestinidade para o exílio, passando pelo governo, até chegar ao nebuloso episódio da cassação. E a edição deu o que falar. Deu o que falar por uns e me causando algumas inesperadas dores de cabeça por outros. Nem vou me ater aqui ao que penei injustamente por isso. A Luciana Capiberibe sabe desse castigo injusto e precipitado a que me refiro. Mas, como diz o compositor popular: Melhor é deixar pra trás...
Só não posso deixar pra trás as cretinices e as mentiras semeadas por gente como o jornalista tucuju e idiota da obesidade Renivaldo Costa. Entenda: “obesidade” aqui é uma metáfora apenas, não se trata – honestamente – de nenhum preconceito com os excessos da jovem (e ele se acha) bichoooooooooona inflada!
E as mentiras – principalmente – atravessaram esses anos todos incólumes, sem nunca receber até hoje resposta de ninguém. Por indiferença de seus leitores ou simplesmente por que eles não existem? Confesso que, também, quando leio alguma coisa sem querer desse pseudo-intelectual de miolo duro, contrariando a teoria de Descartes, penso que não existo. E quando o ouço (claro, demasiadamente sem querer!), que morri e que o Senhor das Esferas, por castigo, me mandou pros quintos dos infernos – ou pr’aquela coisa do rádio e da TV que bem merecia se chamar Me dá um dinheiro aí senão eu te detono.
Quando o idiota da obesidade viu o nome do Chico Buarque de Hollanda na internet apoiando o casal Capiberibe – pra usar uma gíria bem macapaense da atualidade –, ele pirou o cabeção! E, em seguida, maquiavelicamente, articulou uma farsa pra justificar o artigo que viria a escrever e publicar em jornal, dias depois, contestando, na maior cara-de-pau, a veracidade da assinatura do Chico. No artigo, entre outras obesidades, dizia que, mesmo com implacável oposição ao senador, tinha encontrado o seu próprio nome na lista do abaixo-assinado, para propagar (como propagou) aos quatro ventos que aquilo não passava de armação. Não adiantou. Vanguarda veio em seguida trazendo a foto do célebre compositor de Construção na capa. Nesse período eu namorava uma acadêmica de Ciências Sociais da Faculdade de Macapá (FAMA), onde ele estudava também à noite, e ali soube, por uma professora, da campanha difamatória que ele desencadeou contra a minha revista, enciumado, naturalmente, sobretudo com o Chico – o ídolo de olhos cor de ardósia – na capa de Vanguarda, solidário e abraçado ao casal socialista. Diz-se que – aproveitando uma expressão do Caetano – a boneca travada (e inflada) gritava enlouquecida pelos corredores: “Essa foto é uma montagem!”. Mas a “montagem” não colou.
Um ano depois, Janete Capiberibe voltou à Câmara Federal – para indignação maior de seus opositores – com o dobro dos votos do mandato anterior e como a parlamentar mais bem votada do Brasil, proporcionalmente. E de olho no ano que vem o marido Capiberibe se movimenta e começa a emitir sinais de que inicia os trabalhos para a retomada nas urnas de seu mandato de senador, outorgado pelo povo, e que também lhe foi arrancado pelo mesmo processo espúrio. Claro que as forças oligárquicas que atuaram nesse processo vão estar aí de novo, unidas e coesas, na tentativa de impedir que isso aconteça. Mas, enquanto 2010 não chega trazendo as eleições, o tempo não pára: Chico Buarque lança o livro Leite derramado, Caetano Veloso sai em turnê pelo Brasil divulgando o CD zii e zie, a guerreira Janete mostra o poder da mulher amazônica no Congresso Nacional, Capi vê o seu projeto Transparência aprovado na Câmara e sancionado pelo presidente Lula, e Vanguarda prepara sua explosiva edição 14 – É PROIBIDO PROIBIR 1968/1969 – para ser lançada em junho, quando o editor aqui faz aniversário.
E o idiota da obesidade como é que fica? – perguntaria inconscientemente o leitor mais antenado. Ora, olha ele ali... postado no trono como âncora daquela coisa, e, de quando em vez, boiando... olha lá... naquelas ondas sonoras e turvas de coliformes fecais (foda-se!), entre insetos nocivos e insanos zanzando, zanzando...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

IDIOTA DA OBJETIVIDADE E OUTROS


Para o leitor do NAVEGANDO NA VANGUARDA compreender melhor o artigo que vem a seguir, na estréia da coluna Pororocas & Pererês. Toma-te!

Glossário

Idiota da objetividade – Expressão criada pelo escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, para definir o copidesque – função do jornalismo que dividiu a medida na profissão. De repente, não havia mais subjetividade entre o fato e o relato, e toda uma geração desapareceu com o advento do “idiota da objetividade”. Pelo adjetivo, dá para ver de que lado Nelson estava. Ele dizia que um copidesque seria capaz de transformar Marcel Proust em artigo de fundo. "É capaz de reescrever Dante" disse certa vez. "Botem um Dante na mesa do copidesque, e não ficará vírgula sobre vírgula da Divina Comédia".

Idiota da obesidade – Paráfrase da expressão “idiota da objetividade”. Ou seja, o contrário, a antítese de “idiota da objetividade”. O cara que escreve (ou fala) muita besteira. Sacou?

Me dá um dinheiro aí senão eu te detono – Aquela coisa do rádio e da TV tucuju chamada O Troco.

Boneca travada – Expressão usada pelo compositor Caetano Veloso e endereçada ao jornalista Paulo Francis, em briga pública, numa troca de farpas do artista com o famoso e saudoso jornalista.

Bichoooooooooona inflada – Tipo de pederasta, do século 21, invejoso e obeso, que tem a mania de detonar as mulheres.

BRAVO, CAPI, BRAVÍSSIMO!


Parabéns ao senador João Alberto Rodrigues Capiberibe por esse projeto extraordinário de vanguarda para o Brasil, como foi o Programa de Desenvolvimento Sustentável para o Amapá (PDSA), infelizmente sem continuidade, interrompido pelo atual governo. Estamos todos muito orgulhosos com a sua volta triunfal ao noticiário nacional, Capi, depois de tantas injustiças praticadas contra o senhor e à sua companheira, a deputada federal e guerreira Janete. O STF atônito deve agora estar se perguntando: “Meu Deus, o que foi que nós fizemos?!”. Desta vez (veja a volta que deu o mundo) até o Supremo vai ter que se ver com a Lei Capiberibe, tendo evidentemente que pôr às claras tudo o que envolver grana. Como naquela canção de liberdade – que é quase um mantra – da trupe do Clube da Esquina:

Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem...

É isso aí. Bravo, Capi, bravíssimo!

LULA SANCIONA LEI CAPIBERIBE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou de assinar a Lei Federal que obriga publicar todas as contas públicas (receitas e despesas) na Internet. Já chamada de Lei Capiberibe, de autoria do ex-senador João Capiberibe, será agora publicada no Diário Oficial da União e passa a vigorar imediatamente. A solenidade, no Centro de Cultural do Banco do Brasil, que abriga o Gabinete Presidencial, reuniu lideranças nacionais do PSB e do PSOL.
Leia reportagem completa no site Notícias Daqui – acesse em Outras vanguardas.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

OUTRA FOTO HISTÓRICA


O compositor/cantor e escritor Chico Buarque de Hollanda ao lado do casal Capiberibe, numa demonstração clara de seu posicionamento contra o processo que cassou os mandatos de senador da República e deputada federal deles, respectivamente, em abril de 2004. O projeto Transparência, aprovado agora pela Câmara, é prova inconteste do que quer o casal amapaense para o Brasil, e, ao mesmo tempo, respalda a decisão do compositor carioca em apoiá-los. Lembrando que o Supremo Tribunal Federal (STF) cassou os mandatos de Capiberibe e Janete (PSB/AP), ao rever uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acolhendo a acusação de adversários políticos do casal sobre compra de dois votos (pagos de duas vezes) por vinte e seis reais, nas eleições de 2003.
A foto – diga-se de passagem – histórica, foi feita numa tarde de julho de 2004, no Rio de Janeiro. Chico acabava de jogar o seu futebol costumeiro no campo do Politheama (clube que ele criou), quando se deu o encontro – a pedido do próprio Chico, que havia manifestado o seu apoio ao casal, aderindo ao abaixo-assinado na internet contra a decisão do STF. As principais revistas do país – VEJA, ISTOÉ, ÉPOCA e CartaCapital – noticiaram o “apoio de peso”. No Amapá, entretanto...

Foto: Arquivo da família

CÂMARA APROVA PROJETO TRANSPARÊNCIA


A matéria, chamada pelo líder do PSB na Câmara de “Lei Capiberibe”, vai ser sancionada pelo Presidente da República

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou na sessão do dia 5 de maio de 2009, por 389 votos a favor e nenhum contrário, o Projeto de Lei Complementar 217/04, do senador João Alberto Capiberibe, do PSB do Amapá. O texto determina a publicação de informações, em tempo real, sobre a execução de despesas e receitas dos governos nos meios eletrônicos de acesso público, como a internet. A matéria, chamada pelo líder do PSB na Câmara de “Lei Capiberibe”, deve ser sancionada agora pelo Presidente da República.
De acordo com o projeto, as informações deverão ser detalhadas e de livre acesso a qualquer pessoa que tenha acesso a internet. Deverão ser divulgados todos os atos praticados no decorrer da execução da despesa. Será necessário haver dados sobre o bem fornecido ou o serviço prestado; o número do processo; o beneficiário do pagamento e a licitação que tenha sido feita.
Além disso, deverão ser informados os dados relativos ao lançamento e ao recebimento de todas as receitas dos governos, inclusive de recursos extraordinários.
Cidadania – O Governo do Estado do Amapá foi o primeiro da federação a ter todas as contas publicadas na internet, em tempo real, por obrigação de lei instituída pelo governador João Alberto Capiberibe, há sete anos. Em 2003, eleito para o Senado Federal, Capiberibe apresentou a proposta que foi aprovada por unanimidade no mesmo ano por aquela Casa. No mesmo ano, o senador Capiberibe levou a idéia ao ministro da Ciência e Tecnologia, que implantou naquele ministério e, depois, foi adotada livremente por outras repartições públicas. Na Câmara o projeto teve o voto favorável de todos os partidos.
O autor do projeto é didático ao explicar o funcionamento e os benefícios do projeto aprovado pela Câmara dos Deputados, depois de tramitar durante quatro anos. “Esta lei cria uma possibilidade única na sociedade brasileira que é o controle social das receitas e despesas. Torna obrigatório que os agentes públicos que arrecadam do cidadão e da cidadã digam em quê e como estão gastando este dinheiro. E através de um instrumento, que, se não é universal será em poucos anos, que é a internet. quem mora ao lado de uma prefeitura, hoje, não sabe onde o prefeito gasta o dinheiro. Daqui a um ano, vai saber em detalhes quanto custa o quilo do açúcar, do arroz, da bolacha que é servida na merenda escolar. A lei é um poderoso instrumento de controle social sobre a contribuição que o cidadão paga em impostos”.
Integração – O projeto inclui, na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/00), a obrigatoriedade de que os municípios, os estados e o Distrito Federal dotem um sistema integrado de administração financeira e controle. O objetivo é atender a padrões mínimos estabelecidos pelo governo federal e às novas obrigações de divulgação impostas pelo projeto.
Para o cumprimento das novas regras, são concedidos prazos variáveis. A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios com mais de cem mil habitantes terão um ano para seguir as normas. As cidades com população entre 50 mil e cem mil habitantes terão dois anos para se adaptar. Já os municípios com até 50 mil habitantes terão quatro anos. Os prazos serão contados a partir da data de publicação da futura lei complementar, já chamada de Lei Capiberibe.
Se não forem cumpridas as novas obrigações dentro desses prazos, o município ou estado poderá ficar proibido de receber transferências voluntárias.
O projeto atribui a qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato legitimidade para denunciar, aos tribunais de contas e ao Ministério Público de qualquer regra da Lei de Responsabilidade Fiscal.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O MACUNAIMA ELIAKIN RUFINO


Eliakin Rufino é poeta da floresta. Da floresta onde habitam os Ianomâmis – foi lá que o Mário de Andrade se embrenhou para buscar inspiração e escrever a rapsódia Macunaíma. Boa Vista... Roraima do Monte e dos cavalos selvagens! Por maio ser o mês, trazemos aqui o macunaima que se apresenta assim...

GEMINIANO

Eliakin Rufino

Sou geminiano
Eu sou do mês de maio
Quase meio do ano
Dizem que sou inteligente
E comunicativo
Riqueza material
Eu não preciso
O meu apego é só afetivo

Mas sou atormentado
Por indecisões:
Dois mundos
Dois mares
Dois olhares
Dois corações

Eu sou regido por Mercúrio
O planeta mais quente
Que me manda uma energia
Incandescente
Meu elemento é o ar
A força da imaginação
O vento que vem da praia
O olho do furacão

Sou geminiano
E quando amo
Posso amar mais de uma vez
Ao mesmo tempo
Repartir o meu talento
Duplicar o meu amor
Adoro envolvimento

segunda-feira, 25 de maio de 2009

POR UM RAIO DE IANSÃ: DEYSE FRANÇA

Torquato Tarso

Essa tigresa – Teu cabelo preto/ Explícito objeto/
Castanhos lábios/ Ou pra ser exato/ Lábios cor de açaí

nasceu no lugar da chuva, sob o Sol do Equador,
no dia nacional do amor: 12 de junho.
Por isso é puro êxtase.
Faz História na Unifap e, nas horas vagas,
transa com a arte transcendental de Shakespeare.
Foi no palco do Bacabeiras, em Repiquete, que revelou
o talento de atriz: uma cabocla linda assim...
como na canoa entre os mururés.
A Beatriz da esquina do rio maior e mais profundo
com a linha que divide o mundo.
Felina na lagoa cristalina e a poesia da canção que diz:
A tua presença/ É a coisa mais bonita em toda a natureza...
Esculpida por um raio de Iansã que veio do céu,
Deyse – Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
é flor da paisagem no Quilombo do Curiaú.
Do marabaixo ao batuque, a deusa dança até quando
a manhã desponta. E, feito gengibirra,
inebria a gente com seu corpo de mulher exuberante
e olhinhos de menina do Oriente. Ou seriam olhinhos Waiãpi?
Voam as palavras e os olhos do poeta
vão ficando cegos de te ver.
Não, não dá mais pra segurar tanto desejo...
Toma, ó doce cunhã, essa canção como um beijo:

Arriba a saia muié
Me dá aqui a tua mão
Vamo varar esse mato
E esse mar de água doce
Como se a canoa fosse
A nave protonotária
Que pousou na minha mão


Foto: Alex Silveira

sexta-feira, 22 de maio de 2009

CAETANO VELOSO -"zii e zie"


"zii e zie" é um disco muito claro e denso, nascido num ano de chuvas no Rio, um ano de nuvens pesadas e escuras, sem metáfora

Caetano Veloso

Um passo a dar com a banda do "Cê" (hoje bandaCê) e a lembrança permanente daquele disco de Clementina com Carlos Cachaça. "Incompatibilidade de gênios" e "Ingenuidade" estão em "zii e zie" porque são as faixas núcleo daquele disco, as que ficaram sempre acesas na memória. Não tenho um exemplar do disco de Clementina comigo. Talvez um vinil tenha ficado na casa de Dedé e hoje Moreno o achasse. Mas nem perguntei a ele. Num dos primeiros ensaios da série Obra em Progresso, aquele em que Jaquinho foi o convidado, quis ensaiar "Incompatibilidade" e comentei com Pedro, Ricardo e Marcelo que na minha lembrança Clementina cantava em, digamos, dó maior, em vez do lá menor do João Bosco. Tinha na memória uma harmonia mais convencional quando ouvi a gravação desse samba com o autor pela primeira vez: a que tinha ouvido antes com Clementina. Achei que João Bosco tinha feito uma rearmonização e desejei voltar ao jeito que está no disco dela. Mas não estava certo de que minha lembrança não fosse uma ilusão. Jaquinho então disse: "por que você não faz em dó maior, se é isso que você está sentindo?". Tentei achar a gravação de Clementina ali na hora (Moreno não ia aos ensaios), na internet, mas não achei. Achei uma exuberante e espetacular de João Bosco ao vivo no YouTube. Em lá menor, claro. Me pergunto se há muita coisa melhor do que aquilo no mundo. Mas minha idéia era totalmente oposta à daquele tratamento jazzístico moderno e com um suingue de samba tão profundamente sentido por todos os músicos que chega a doer. Voltei para a sala de ensaio com vontade de talvez nem cantar a música. E com a certeza de que, se o fizesse, seria em lá menor: o dó maior seria bonito numa versão ingênua que quisesse ser o que Clementina soava pra mim. Na versão simplificada mas nada ingênua que eu imaginava, o centro tonal em lá menor - e os acordes tensos ao seu redor - era o que se exigia. A batida monótona tinha de o ser tanto quanto a de "Perdeu", embora um tanto diferente: partindo da idéia básica da batida de Bosco. Experimentamos. E a canção entrou não só no show seguinte como está no disco.

Me demoro contando sobre a entrada de "Incompatibilidade de gênios" (e algo sobre a de "Ingenuidade") em "zii e zie" porque acho que isso joga luz sobre todo o sentido do novo disco. Conhecendo o que eu sugeri para "Perdeu" (e o que, juntos, conseguimos com esse transamba), os três caras da banda intuíam o que deveria estar em minha cabeça como tratamento para "Incompatibilidade". Mas as mudanças porque o projeto de arranjo passou em minha mente eles não acompanharam. Voltei do computador decidido a incluir a música no disco e dizendo que a versão de João era humilhante, mas que a gente faria um "transamba", enquanto ele fazia "samberklee". A piada era boa e fez rir. Não dá para competir: nossa versão apenas mostra uma abordagem diferente, que talvez suscite outras interpretações desse samba obra-prima. Isso diz muito do que fazemos, nesse disco, com o samba em geral.

De "Diferentemente" (a mais velha das canções do CD) a "Lapa" (a mais nova), todas as composições nasceram comigo usando batidas de samba no meu violão - e buscando frases melódicas que evocassem a tradição do gênero. As únicas exceções talvez sejam "Por quem?" e "Sem cais". Digo "talvez" porque para "Por quem?" sempre imaginei uma bateria dobrando uma transbossanova sobre o ternário às avessas do meu violão - e a balada de "Sem cais" já veio à mente de Pedro com muito samba dentro. Pode ser que alguém ache difícil reencontrar isso em "Menina da Ria" ou mesmo em "Lobão tem razão". Mas eu digo que, embora em "A cor amarela" haja explícitas palmas de samba-de-roda, há mais samba na base daquelas duas canções (e em "Tarado ni você") do que no axé light da menina preta. Mantive as minhas batidas de violão do momento da composição em todas as gravações. Sugeri relações de contraste ou de distorção entre elas e a atividade dos outros instrumentistas. Chegamos a coisas muito bonitas e, mesmo para nós, intrigantes.

"zii e zie" é um disco feito com a bandaCê, concebido para ela. Ela tinha sido concebida para fazer o "Cê". Por isso há mais unidade na partida do "Cê" do que na chegada, ao passo que há mais unidade na chegada do que na partida do "zii e zie". Para nós quatro foi custoso reconhecer essa verdade (que pareceu óbvia a ouvintes não envolvidos na feitura).

"Cê" foi concebido para criar uma banda. Mas foi um disco de letras muito pessoais minhas. Eu olhava para meu entorno próximo. Em "zii e zie", as letras olham para mais longe. Atém-se majoritariamente ao Rio, mas aí vai a lugares variados: da favela ao Leblon, da Lapa à praia; de Chico Alvez a Los Hermanos; de anônimos típicos a celebridades atípicas, como Kassin, a combinações inusitadas de personalidades cariocas, como Guinga e Pedro Sá. Mas as letras olham para mais longe de mim também: Guantánamo, grutas do Afeganistão, Washington. Voltam os nomes próprios e o tom de comentário dos signos dos tempos que sempre fizeram presença em meu repertório.

Tudo contribuiu para que este viesse a ser um disco mais de banda do que o anterior. Moreno e Daniel Carvalho ficaram mais felizes com o material sonoro que produzíamos. E nós nos sentíamos ainda mais relaxados no diálogo com eles dentro do estúdio. Pedro foi mais um produtor que dirige a feitura da música. Moreno, mais um produtor que dirige a feitura do som. Daniel era responsável pela técnica de captação. Moreno tem um ouvido muito fino para gravação, mixagem e masterização. Ele ilumina os técnicos. E o tratamento sonoro que ele e Daniel trazem ilumina a música.

"zii e zie" é um disco muito claro e denso, nascido num ano de chuvas no Rio, um ano de nuvens pesadas e escuras, sem metáfora. É um disco que saúda a era Fernando Henrique/Lula e fala de ambições de ascensão do Brasil no cenário mundial num tom de tristeza íntima mitigada. Entro na velhice. Pedro e Moreno estão no auge da idade adulta. Marcelo e Ricardo chegam a ela. Somos pessoas de gerações diferentes partilhando interesses musicais e humanos semelhantes. E com assustadas expectativas de futuro soando em nossas cordas metálicas, plásticas, mucosas.

O NOVO CD DE CAETANO VELOSO


Chega às lojas de Macapá o CD zii e zie, de Caetano Veloso. O disco está dando o que falar (até o líder cubano Fidel Castro comentou) e Caetano sai em turnê pelo Brasil para promovê-lo. Vai estar em Belém neste sábado, 23, se apresentando na Assembléia Paraense. Zii e zie são palavras do vocabulário italiano, que o próprio Caetano diz o que significa e porque as escolheu para dar nome ao novo disco: “zii e zie quer dizer ‘tio e tias’ – é um disco todo do Rio. Seu som, seus temas, seu clima, tudo tem a ver com o fato de meus filhos terem crescido aqui – e com minha adolescência em Guadalupe. Mas sonho em lançá-lo em Sampa. O italiano do título vem muito da saudade de São Paulo, do prazer em ouvir e ler paulistas dizendo ‘tios’ e ‘tias’ (ou mesmo ‘tiozinhos’) para se referirem aos adultos.”
Quem quiser saber mais sobre o CD é só acessar o site do artista aí em Outras vanguardas. Tem até um vídeo com ele falando da obra – e texto (release) que postamos a seguir.

TIGRESAS DA VANGUARDA

Segunda-feira (25) começamos a postar os ensaios das tigresas que saíram em Vanguarda Cultural. Deyse França, que foi a primeira, inaugura o quadro. Depois vai ser a vez de Ronelli Aragão, seguida de Bárbara Castro e, fechando o primeiro bloco, a flor do Grão-Pará Rosa Rente. Tudo em nome da arte e da beleza!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

FESTIVAIS DO BRASIL

O site http://www.festivaisdobrasil.com.br/ – o mais completo do gênero –, eu já conheço de muitos festivais. E foi através dele que canções que compus como Valsa de Ciranda, Último enredo, Levemente louca e Lia, passaram a ser conhecidas em outras regiões do país, onde minha participação em festivais do Brasil – Itumbiara/GO, Tatuí/SP, Ilha Solteira/SP, Boa Esperança/MG, Garanhuns/PE e Belém/PA – se deu pela descoberta e acesso ao domínio (o site) do músico e compositor Sérgio K. Augusto.
Em alguns desses festivais, inclusive, conquistei títulos, como o 3º Fest Sinhá (Itumbiara) – 1º lugar –, o 10º Festival MPB de Tautí – 4º lugar e prêmio de melhor intérprete à Patrícia Bastos – e o 37º Festival Nacional de Boa Esperança – 3º lugar. Os três, concorrendo com a mesma canção Valsa de Ciranda – parceria com os compositores amazônidas Enrico Di Miceli, Helder Brandão, Aldo Gatinho e Joel Elias – e o 27º Festival Nacional de Ilha Solteira, com Levemente louca – 3º lugar –, parceria com o músico amapaense Cléverson Baía, sendo que esta colocação nos deu o privilégio de sermos os únicos compositores do Norte a entrar no Circuito Paulista de Festivais – uma espécie de festival dos festivais de São Paulo –, ocorrido em outubro de 2001, no lendário Teatro São Pedro, cujo vencedor foi o paraibano João Linhares.
E minha peregrinação pelos festivais do Brasil, além do reconhecimento e prêmios, me proporcionou também boas amizades. Conheci, por exemplo, o compositor mineiro Renato Motha – hoje um nome bastante conhecido naquele eixo –, a cantora paulistana Mariana Leporace (intérprete de um belo disco com obras e participação de Chico Buarque e Edu Lobo) e o próprio Sérgio K. Augusto, onde, pela última vez, nos cruzamos em Garanhuns. Desta vez ele me julgando como compositor (Sérgio K. Augusto tinha sido convidado pela organização para ser jurado) – diferentemente de Tatuí, quando fomos concorrentes. Lembro que desembarcamos juntos em Recife e ele, no aeroporto mesmo, veio me cumprimentar. É um incansável guerrilheiro da música, de armas em punho, em defesa da preservação e continuidade desse inestimável legado cultural que é a canção popular brasileira. Mesmo que não o conhecesse – ave, Sérgio K. Augusto! –, o link do seu site estaria aqui entre os nossos preferidos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

UMA FOTO HISTÓRICA

Existem imagens que resumem épocas. A que aparece na capa de BRAVO! deste mês é uma delas

João Gabriel de Lima

Chico Buarque e Caetano Veloso. Todo momento cultural tem um par que o resume. É o caso de Truffaut e Godard no cinema francês dos anos 60. Mozart e Beethoven no classicismo musical vienense. Hemingway e Scott Fitzgerald na “geração perdida” da literatura americana. Bandeira e Drummond na poesia modernista brasileira. Caetano e Chico resumem uma geração especialmente talentosa da MPB. A que sucedeu o trio da bossa nova – Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto – e teve também Gilberto Gil, Milton Nascimento, Tom Zé, Edu Lobo e vários outros. Dizer que Chico e Caetano resumem o período não diminui seus companheiros de geração, da mesma maneira que enaltecer Mozart e Beethoven não desmerece Haydn. A principal característica dos ares que sintetizam épocas é o fato de seus integrantes possuírem, simultaneamente, sintonia e divergência, resumindo as questões que marcaram o período. Tradição ou inovação? Pop ou MPB? Foco na linguagem ou engajamento? Caetano e Chico expressam as dualidades que fizeram a música brasileira avançar.
Pode-se dizer, por conta disso, que as fotos que ilustram tanto a capa de BRAVO! deste mês como a reportagem que começa na página 24 são históricas. Nelas, temos a imagem que resume todo um período da cultura brasileira. Uma imagem rara: sempre com agendas lotadas, Chico Buarque e Caetano Veloso raramente aparecem juntos na mesma foto. De acordo com o empresário de Chico Buarque, Vinicius França, tal reunião devidamente documentada não ocorria desde os anos 80, quando os dois artistas comandavam o programa Chico e Caetano. BRAVO! tinha bons motivos para promover o encontro. Numa dessas coincidências raras, Caetano e Chico resolveram lançar, respectivamente, novo CD e novo romance no mês de abril. Na avaliação da revista, um ótimo romance e um disco que merece entrar no top 10 dos melhores álbuns de Caetano. BRAVO! agradece aos dois artistas a oportunidade do clique histórico, realizado pelo fotógrafo Murillo Meirelles no escritório do assessor de imprensa Mario Canivello.

O autor é diretor de redação de BRAVO!

O QUE TODAS QUERIAM TER

A revista BRAVO! de abril conseguiu o que todas queriam ter: Chico Buarque e Caetano Veloso na capa. Explico: é que os dois escolheram o mês de abril para lançar, respectivamente, o romance Leite derramado (Companhia das Letras) e o CD zii e zie (Universal). Como abril já passou e a revista não está mais nas bancas – e imagino que, principalmente em Macapá, muita gente passou batido pela edição histórica –, publico aqui o editorial dela, virtuoso como as duas celebridades da capa.

sábado, 16 de maio de 2009

A VIDA e a ARTE de NONATO LEAL


Aos 80 anos de idade, o mais ilustre violonista do Amapá comemora também 70 anos de carreira musical

Lulih Rojanski & Aroldo Pedrosa

O mundo delirava ao ritmo do charleston e ao som do jazz de Louis Armstrong, quando o músico e compositor Nonato Leal nasceu, na década de 1920. Os automóveis começavam a ser produzidos em massa e tornaram-se populares. Pela primeira vez um avião sobrevoou o oceano Atlântico e a primeira transmissão radiofônica da história do Brasil apresentou Pixinguinha ao vivo. Rodolfo Valentino e Charles Chaplin lotavam salas de cinema pelo mundo afora. Artistas brasileiros movimentaram São Paulo com a Semana de Arte Moderna, em busca de uma expressão referencialmente brasileira, e finalmente se iniciaram as gravações musicais elétricas. Na Amazônia, não havia estradas nem incentivo à migração. A região vivia à margem do deslumbramento de um mundo que se curvava diante das tecnologias industriais que em pouco tempo encheriam as casas da classe média de eletrodomésticos. E em Vigia, um município do interior da Amazônia criado em 1616 – seis dias antes da fundação de Belém – Nonato Leal nascia também à margem dos acontecimentos nacionais, em um julho de sol sobre a floresta, em 1927, mas sob o signo da criatividade e da efervescência artística de uma década que estendeu raízes para o mundo moderno.
Pois o artista se fez apesar das lonjuras e desde a mais tenra idade soube que a música era o seu destino. Como as notas instrumentais o envolvessem em ternas melodias desde o berço – o pai e a mãe eram músicos – mal havia completado 10 anos quando se apresentou pela primeira vez ao público. Tocava então violino. Depois vieram o banjo, o cavaquinho, o bandolim, a viola, e nesta seqüência de cordas chegou o violão, o instrumento que o acompanha até aqui, aos 80 anos de idade, 70 deles dedicados à música.
“A música é hereditária, eu a herdei de meu pai, Manoel da Vera Cruz Leal, que era um excelente músico. Minha mãe tocava piano e todos os meus irmãos tocavam algum tipo de instrumento. A casa era uma verdadeira orquestra”, relembra Nonato. Mas a primeira participação oficial em um grupo musical veio pouco depois, quando já morava em Belém e foi apresentado pelo músico Aluísio Beviláqua ao conjunto regional Soberanos do Ritmo. Era uma época em que os conjuntos regionais reinavam em apresentações pelos coretos e clubes, executando em flauta, violão e cavaquinho, o choro, o samba, o samba-canção, o maxixe, a marcha, o bolero, a rumba e até mesmo o tango argentino.
Com o Soberanos do Ritmo viajou pela região amazônica fazendo shows, e foi morar no Rio de Janeiro, atrás da idéia de que “para tocar nada era longe”. Lá, apresentava-se nos lugares onde houvesse qualquer público, pois tudo o que importava era estar com “o pé na profissão”. Dois anos durou a aventura, interrompida pela separação do grupo. De volta a Belém, viveu uma juventude boêmia, envolvido pelo encanto das serestas, tendo sempre o violão por companheiro.
Tinha 25 anos quando foi convidado para vir a Macapá passar uma chuva. Era inverno, quando na Amazônia as chuvas multiplicam o tempo de quem tem pressa, aumentam as distâncias e enchem de poesia os repetidos verdes da paisagem. O músico foi ficando, porque a terra o foi acolhendo. E a chuva que veio passar tem durado 55 anos.
Chegou a Macapá no dia 2 de março de 1952, casou-se com Paracy Leite e construiu uma família de seis filhos: Venilton, Vanildon, Venilson, Vera, Vânia e Vanilze. Os primeiros nasceram junto com a Bossa Nova, no final dos anos 50, três deles trouxeram a música no sangue e no destino e, assim como Nonato, aprenderam a tocar por conta própria.
Nonato Leal não freqüentou conservatórios musicais nem teve em sua juventude professores que o elevassem, através de regras, disciplina e conhecimento, à categoria de grande músico. Tornou-se um grande músico graças à sua própria boa vontade, seu esforço e aos exercícios de imitação dos ídolos, cuja música sempre tirou de ouvido. Já possuía a experiência de um mestre quando precisou estudar música para tornar-se formalmente professor, aos 45 anos, tendo como instrutor Oscar Santos, o mestre Oscar, um revolucionário da educação musical no Amapá.
Mas Dilermando Reis, um dos mais importantes e versáteis violonistas brasileiros, falecido em 1977, é o seu grande ídolo. Considera que sempre aprendeu música ouvindo seus discos. Dele, Nonato tem uma de suas melhores lembranças: “No dia em que o conheci, toquei para ele uma valsa”. Outra influência importante em sua trajetória musical vem do violonista paraense Sebastião Tapajós, com quem cultiva antiga amizade. “Toda vez que o Sebastião Tapajós vem a Macapá eu aprendo algo novo com ele”, conta.
Nonato Leal tem participação importante na história dos festivais de música do Estado. O primeiro de que participou, na década de 1960, ainda no governo de Ivanhoé Martins, lhe rendeu as três primeiras colocações. O primeiro lugar com Canção Anti-muro, uma música de protesto feita em parceria com o poeta Alcy Araújo. O segundo lugar com uma parceria entre ele e o poeta Isnard Lima, e o terceiro lugar com o poeta Cordeiro Gomes. A parceria constante com Alcy, um dos seus grandes amigos, lhe rendeu ainda premiações em outros festivais, além de diversos sambas para escolas de samba de Macapá.
A realização do sonho da gravação de um disco, todavia, só veio aos 70 anos, através de incentivo do governador do Estado na época, João Capiberibe. Com a direção musical de Manoel Cordeiro, Nonato gravou Lamento Beduíno, em 1998, um CD com 15 faixas, cuja música principal é inspirada nas caravanas que atravessam o deserto do Saara. O segundo CD, Coração Popular, foi gravado em 2001 e, das 15 faixas, seis são composições suas. Os dois trabalhos tiveram suas edições esgotadas, e um terceiro está ainda no sonho do músico, que para gravar precisa de uma instituição ou empresa que assuma os custos.
Nonato sempre tocou pelos bares na noite, desde o princípio de sua carreira. A música sempre lhe garantiu renda. Hoje, todavia, prefere tocar menos nos bares, e ainda assim somente pela satisfação que lhe dá apresentar-se com seu violão ao público, pois mantém uma posição crítica em relação à exploração a que os novos músicos se submetem quando aceitam tocar na noite por qualquer preço. Outra consideração que Nonato Leal faz diz respeito à escolha dos músicos que se apresentam nos eventos culturais: “Existe uma discriminação acintosa ao artista idoso. Muitos produtores confundem idade e talento. Eles preferem apresentar um cantor de 20 anos, mas de uma mediocridade sem tamanho, do que dar espaço ao artista de mais idade”.
Em sua casa, na margem do lago da praça Floriano Peixoto, onde mora com a mulher Paracy, o músico renova sua inspiração diariamente com exercícios de violão – segundo ele, um bálsamo para atenuar qualquer problema. Come muito peixe, não fuma, faz caminhadas em torno do lago e diz que “não esquenta a cabeça”. Aos artistas novos, que vivem uma época em que a efervescência musical privilegia os gostos menos sofisticados, Nonato Leal, um músico de talento irretocável, recomenda paciência e humildade.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

NA CRISTA DA POROROCA ELETRÔNICA


NAVEGANDO NA VANGUARDA foi criado para postar as principais reportagens e entrevistas que foram ou que ainda vão ser publicadas na revista Vanguarda Cultural. Nosso blog é a edição eletrônica da revista, que agora tem também Vanguarda Marketing – a partir de junho, inclusive, deixa de ser suplemento para ganhar vida própria. Vanguarda Marketing é a parte comercial da revista que, em sua próxima edição – a nº 1 –, será distribuída gratuitamente. Ou seja, um veículo perfeito para a sua publicidade. Voltaremos a falar dela depois.
Mas, como singrava com o barco da vanguarda a crista dessa pororoca eletrônica... Gradativamente postaremos a essência do que foi produzido ao longo desses seis anos e do que será para as próximas edições. E vamos começar trazendo a reportagem especial sobre o músico e compositor Nonato Leal, publicada na edição nº 12 (2008) de Vanguarda Cultural. As fotos são de Alexandre Brito.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

CAZUZA: A BURGUESIA FEDE!

Tem um esgoto exposto, a céu aberto, na avenida Presidente Vargas, entre as ruas Eliezer Levy e Odilardo Silva, ao lado do Sassas e da Divina Arte – dois ambientes burgueses no centro da cidade.
Do esgoto transborda uma água preta, que, pelo odor, só pode vir de fossas sanitárias. A água podre, há mais de uma semana, desce a ladeira num rastro de quase um quarteirão e ninguém faz nada. Sobretudo os burgueses que lotam os dois ambientes durante a semana. Vai ver que é porque eles têm dinheiro pra comprar perfume.

O INTÉRPRETE DE ANABELA


O cantor paulistano Renato Braz vem aí para ser a principal atração do NAVEGANDO NA VANGUARDA (provavelmente antes do Fernando Mendes). O show deve ser no Teatro das Bacabeiras ou no Sesc Araxá, em junho.
Renato Braz – pra quem não conhece – é um dos maiores intérpretes da MPB. Apareceu com a conquista do prêmio Visa – um dos mais sérios do Brasil – na categoria de melhor cantor, e tem cinco CDs gravados. Já esteve em Macapá pelo projeto Pixinguinha, mas pouca gente foi prestigiar o show do artista. E você que não foi, sinceramente, não sabe o que perdeu. Haverá, enfim, mais uma chance.
A canção mais bonita do mundo, depois de Baby (Caetano Veloso) – na opinião deste articulista – foi gravada por ele.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

UMA BOA PITADA DE TROPICÁLIA

O que você vai ler a seguir é apenas um fragmento de uma grande reportagem sobre a cultura brasileira, publicada em 2003 na revista americana Wired, assinada pelo jornalista – também americano – Julian Dibber. Bom paladar!

Em 1556, não muito depois de os portugueses pisarem pela primeira vez no Brasil, o bispo Pero Fernandes Sardinha naufragou em uma praia e começou a introduzir o Evangelho de Cristo para os “pagãos” nativos. Os moradores locais, impressionados com a gloriosa civilização que o bispo representava e ansiosos em absorvê-la em sua totalidade, prontamente o devoraram.
Assim nasceu a cultura brasileira. Ou assim escreveu o poeta modernista brasileiro Oswald de Andrade, cuja interpretação do incidente em um manifesto de 1928 exaltou os canibais como modelos simbólicos a serem seguidos por todos os praticantes culturais do seu país. Quatro décadas depois seu argumento inspirou um par de estrelas do pop hipereloqüentes chamadas Caetano Veloso e Gilberto Gil. Veloso e Gil formaram o núcleo do tropicalismo – uma tentativa bem anos 60 de tentar capturar o sentimento caótico e tortuoso da modernização lenta e desigual do Brasil, sua desordem de riqueza e pobreza, de rural e urbano, de local e global. Para os tropicalistas, assim como para Andrade, havia só uma receita para prosperar no meio de tanto contraste: você não pode recuar em frente ao que lhe é estranho. Você não pode, tampouco, imitá-lo inconscientemente. Você simplesmente deve engoli-lo por completo.
O que isso significou, na prática, foi uma abordagem musical que virou a silenciosa e sofisticada bossa nova do começo dos anos 60 de cabeça para baixo, abrindo sua boca faminta para todo e qualquer tipo de influência, incluindo a forma pop menos brasileira, o rock. O tropicalismo, como Veloso o coloca, “foi um pouco chocante. Nós viemos com coisas novas que envolviam guitarras, poesia violenta, mau gosto, música tradicional brasileira, missa católica, pop, kitsch, tango, coisas caribenhas, rock-and-roll e também nossa música de vanguarda, a chamada ‘música séria’”. Eles cortaram e colaram estilos com uma liberdade que, para a cena musical sampleada de hoje, soa atualíssima – e que é a maior razão para que os primeiros discos tropicalistas tenham, nos últimos dez anos, se tornado clássicos dos moderninhos nos Estados Unidos e na Europa.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

EDITORIAL


NAVEGANDO NA VANGUARDA é um projeto de cultura e meio ambiente amazônico, concebido, sobretudo, com o intuito de fazer intercâmbio com expressões culturais dos pontos mais distintos do país, e, entre outras realizações, celebrar o aniversário de Vanguarda Cultural – revista genuinamente amapaense, de circulação periódica, mas que vem mantendo o compromisso de divulgar a nossa cultura pelo Brasil desde 1º de maio de 2003, quando foi oficialmente lançada em Macapá.
O projeto NAVEGANDO NA VANGUARDA, por sua vez, iniciou-se em 2008, cuja festa de celebração dos cinco anos da revista Vanguarda Cultural culminou com a vinda do compositor, cantor, cineasta e escritor Jorge Mautner, que ministrou a palestra 40 Anos de Tropicália no Universo da Cultura Brasileira – auditório da Universidade Estadual do Amapá (UEAP) – com a exibição do filme O Demiurgo (Jorge Mautner) e também apresentou o show Revirão, no evento de entrega do Troféu Vanguarda – Réveillon do Bar do Abreu – em 27 de dezembro de 2008.
E agora, para celebrar o sexto ano da revista, NAVEGANDO NA VANGUARDA traz a Macapá Fernando Mendes, o compositor popular de “Você não me ensinou a te esquecer” – música-tema da comédia romântica Lisbela e o prisioneiro (Guel Arraes), interpretada por Caetano Veloso e indicada ao prêmio Grammy Latino/2004.
O projeto tem como objetivo tratar a cultura brasileira – principalmente a canção popular produzida entre os trópicos – sem preconceitos e transferir para o meio do mundo o que o tropicalismo soube fazer com muita competência e graça: pôr no mesmo caldeirão a diversidade cultural da terra de Pindorama – como na síntese da tese publicada também neste blog. E mostrar para a comunidade que, mesmo com a chamada música de massa, é possível detectar pulsação cultural e qualidade nessas manifestações. É só uma questão de visão e audição. Canções como “Coração materno” (Vicente Celestino), “Vou tirar você desse lugar” (Odair José), “Sozinho” (Peninha) e “Você não me ensinou a te esquecer”, do próprio Fernando Mendes, gravadas por Caetano Veloso com estrondoso sucesso nacional, e absorvidas também por ouvidos mais apurados e exigentes, são exemplos plausíveis e incontestes dessas manifestações.
O projeto não envolve apenas a música, mas outros segmentos da cultura como as artes cênicas, plásticas e visuais – cinema, teatro, pintura, dança, performances e intervenções poéticas e circenses. Nas artes cênicas, por exemplo, quadros do filme Lisbela e o prisioneiro vão ser encenados, por um elenco de atores do Amapá, numa interação antropofágica do teatro com o cinema e numa ligeira adaptação ao ambiente amazônico. Por que o cinema como ponto de intersecção do evento?! Quando o então ministro tropicalista da Cultura, Gilberto Gil, esteve em Macapá (28 de abril de 2008), ele mostrou pesquisa do IBGE revelando que 85% da população brasileira nunca foram ao cinema. Se “nunca foram”, vamos levar o cinema a essas pessoas, envolvendo o teatro e a música.
NAVEGANDO NA VANGUARDA Com Fernando Mendes marcará ainda o lançamento oficial da 14ª edição de Vanguarda Cultural, que trará as últimas informações culturais do Amapá e entrevista com a principal atração do projeto, Fernando Mendes, falando de sua vida e carreira.
O período de realização do projeto ainda está sendo estudado, mas em breve anunciaremos aqui.