sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A VOZ ROUCA DAS RUAS

Rupsilva

Como costumava dizer o cidadão ULISSES GUIMARÃES, Presidente do antigo MDB, os partidos políticos antes de tudo deveriam ouvir a voz rouca do povo sofrido, o clamor da sociedade humilde, antes de estabelecer suas políticas públicas para minorar sua dor, função primordial de qualquer governo.

A harmonia que nos [des] governa há oito anos colocou em prática um projeto incapaz de resolve nossos problemas. Simplesmente cansou. Foi necessário que a Operação Mãos Limpas viesse para produzir na sociedade um choque de realidade, revelando o lado obscuro da apropriação indébita dos recursos do orçamento.

Aberta a caixa de Pandora, falou alto a voz rouca das ruas. A sociedade, principalmente a fração mais esclarecida e politizada, captou a mensagem, produzindo nas urnas um resultado que sinaliza, claramente o início de um processo de limpeza da política do Amapá, embora persistam focos de resistência em vários setores e muitos candidatos tenham sobrevividos ao crivo da ética e moralidade públicas.

O sinal oriundo das urnas, no entanto, mostrou uma sociedade mais consciente e que não mais se deixa seduzir pelo canto da sereia, embora persista o vício da compra e venda do voto firmemente entranhado nos bolsões da ignorância e da pobreza.

É dessa prática espúria que se valem políticos igualmente ignorantes do papel institucional do Estado e do que lhes cabe desempenhar, para manter seus mandatos, negócios e privilégios.

Muito se fala em “vontade política” e na determinação dos órgãos fiscalizadores cumprirem seu papel. Além de oneroso passou a ser ariscado esse tipo de contravenção da lei, à medida que instituições como PF e MPF decidiram atuar para valer demonstrando que quando se quer se faz.

Já nessa eleição não foram poucos os flagrantes de ilícitos eleitorais que a sociedade espera que não se percam pelos escaninhos da burocracia jurídica e culminem em penas pesadíssimas, afastando de vez esses “políticos” da vida pública, mercadores de votos e exploradores da miséria social.

Análise fria dos números mostra, mais uma vez, que a verdadeira oposição, representada pela aliança PT/PSB, foi a grande vencedora, ampliando sua base e participação popular.

Mesmo diante de enormes limitações financeiras para tocar a campanha, principalmente no interior do Estado, a coligação Frente Popular, sob a batuta dos Capiberibes, teve da sociedade amapaense a clara resposta da admiração, confiança e reconhecimento da obra realizada nas gestões do Estado e do mandato popular.

Vencendo a torpe manobra dos porões da harmonia de desconstruir sua obra política, ficou clara a admiração do povo do Amapá, seja pela retidão de caráter, seja pelo enorme apreço que reconhece que nutre pela população desassistida, enfim, pela forma como defende seus interesses diante dos poderosos, luta essa desabrida, corajosa contra os que se apropriam dos recursos públicos.

Na campanha da Frente Popular, reverberam seus condutores, não houve gasto de dinheiro público nem apoio da contravenção. Gastou-se sim, sola de sapato. Apresentou propostas simples, claras e objetivas, debate inteligente e busca obstinada da ética e da moralidade pública que implica na correta e transparente aplicação do orçamento público. Marca dos governos socialistas.

A sociedade não mais se deixa iludir por promessas e chavões vazios daqueles que nunca se importaram, de verdade, com as classes mais humildes e desfavorecidas e se aliam a políticos e empresários, cuja prosperidade deriva das facilidades criadas no aparelho do Estado, afinal não há segredo nem abaixo nem acima da linha do Equador. Vivemos numa cidade de muro baixo.

Desta maneira é impossível não reconhecer, mais uma vez, o desempenho do PSB/PT. Dos socialistas em particular. Sem vender a alma ao satanás, como diziam os antigos, tiveram um desempenho espetacular fruto da fidelidade a crença que as revoluções só acontecem com o apoio de uma sociedade educada,transformadora, livre e democrática, consciente dos seus direitos e deveres e por eles disposta a brigar.

As votações de João Capiberibe ao Senado e Janete,de novo campeã de votos [desempenho prejudicado pela boataria da harmonia sob a sua inelegibilidade para a Câmara Federal] dão a dimensão exata de seu carisma popular.

Algo espontânea que nunca dependeu da compra de voto, diferente da farsa engendrada pelo PMDB que lhes tirou o mandato em 2004 e no pleito atual, agraciando,mais uma vez, o afilhado do Rei do tapetão Gilvam.

O que falar da magnífica votação de Camilo Capiberibe para o governo? Sem grana, quase não foi ao interior. Mesmo assim, em meio à denuncias de compra e venda de votos, estimulada pela ausência da fiscalização da PF, ainda conseguiu arrastar boa votação.

Macapá e Santana, juntas, foi uma festa. Povo mais esclarecido deu uma diferença de mais de 16 mil votos sobre o terceiro vértice do triangulo da harmonia, o petebista Barreto, ainda que contasse com o forte apoio de Sarney e boa parte da harmonia. A pequena diferença de 800 votos do interior aumenta-lhe as chances de vitória.

Nas ruas, em pleno recesso eleitoral, já se percebe uma maciça adesão ao candidato do PSB. Eleitores, desiludidos com a aliança do adversário [é o que se ouve] com Sarney e empresários, a maioria com históricos de sonegação de impostos e negócios obscuros como Estado.

Chegou a hora de uma decisão histórica. Nada de embuste. Nada do solerte jogo da negação e da enganação diante das evidências. Está claro que a batalha dar-se-á entre forças do atraso e daqueles que desejam dar um novo rumo ao Estado. Deus salve o Amapá!!

POUCAS & BOAS

ESCLARECIMENTO. Claro que o objetivo da blogueira Alcinea Cavalcante é desacreditar esse articulista, quando reproduz um tópico de minha autoria que duvidava da capacidade de Randolfe Rodrigues [PSOL] chegar ao Senado, fruto de uma conversa tida com o estatístico Job Miranda do instituto IPSLON.

Não imagino que a timoneira da “nova esquerda”, cuja herança de Alcy lhe confere inteligência privilegiada, seja guiada, em seu comentário, por motivos subalternos. Como não acredito que o amor pela causa abraçada tenha lhe emburrecido.

Claro que a análise levava em conta uma candidatura [ Randolfe Rodrigues] sem o apoio da harmonia e seu artífice, que ela sabe de quem se trata, até porque foi sua vítima.Com tanta grana rolando até o papagaio da Ana Maria se elegeria.Sem falar nos outros expedientes usados que comprometem a imagem de uma pessoa que diz ter um passado de lutas pela sociedade que acabou manchada nesse pleito.

Para mim, afirmo e reafirmo: o candidato do PSOL não é um “fenômeno eleitoral”como quer impor sua patotinha.Pactuou, da mesma forma que a “nova esquerda”, com a sórdida manobra para eliminar o clã Capiberibe da política local, no pressuposto que seu candidato tenha se metamorfoseado em alguém confiável e capaz de atender os anseios populares.

PAPALEO UM BOM EXEMPLO. Em 2002 Papaleo Paes foi esse fenômeno. Como Randolfe, ganhou de Capiberibe recém saído do governo. Hoje abandonado por antigos aliados, amarga uma derrota que compromete seu futuro político. Randolfe, portanto, pode ser o Papaleo amanhã. Apesar de contribuir para a sobrevivência da harmonia, não posso deixar de reconhecer que sua vitória,ainda que construída sob uma farsa, pode ser saudada como uma agradável surpresa.

O PREÇO AMARGO DO TRIUNFO. A turma acostumada a comprar votos para se eleger gasta cada vez mais para ostentar o galardão de eleito. Uma simples bandeira inflacionou e chegou a 300 reais em alguns lugarejos. Teve quem desse e a vida continua.

JÔGO PESADO. Por essa razão para alguém que insiste nas suas origens e práticas de esquerda, é constrangedor explicar a enxurrada de votos obtidos no interior. Valia tudo, me informou um eleitor de Itaubal do Piriri. Lá uma bandeira chegou 200 reais.

A novidade foi a “doação” de botijões de gás. Cesta básica, apesar do jogo pesado da PF na capital, ainda é a prática mais usual. Há muitos flagrantes que esperamos vir ao conhecimento público para que tenhamos controle social e os efeitos previstos em lei.

O EFEITO DEBATE. Dois fatos, sem dúvida, alteraram o curso desse primeiro turno. Um a Operação Mãos Limpas da Policia Federal e STJ.O outro o debate entre os candidatos realizado pela Globo.A atuação soberba de Camilo [ponto alto] mesmo agredido [junto com os pais] pelo trio da harmonia.Foi firme e convincente nas respostas.

Camilo expôs com competência, clareza e objetividade suas propostas de governo deixando ao expectador a certeza que era a melhor alternativa. Tanto que, pelo menos em Macapá, deu uma sova nos adversários.

PINTOU SUJEIRA. A “nova esquerda’ perdeu de vez o rumo deixando clara suas relações com Sarney e Cia. As figuras mais notórias desse “revanchismo sem causa” é a postura das blogueiras Cavalcante e da radialista Marcia Correa que reproduzem a mesma prática odiosa da mídia ligada a harmonia, urdida por Sarney, que distorce e esconde os fatos, desinforma, criam factóides, mentem e o direito de resposta é só uma formalidade. Quando fere interesses, é tripudiado, em prejuízo do debate e do verdadeiro jornalismo.A palavra que prevalece é da entrevistadora na ausência do interlocutor.

A virulência com que vem atacando o candidato Camilo Capiberibe, revela o medo da derrota. Café com Noticias, programa jornalístico saudado como um fórum de debate, da abertura ao contraditório, da prospecção das condições sócios econômicas do Amapá, por isso democrático, hoje defende interesses subalternos e inconfessáveis. Nesses agentes da “nova esquerda”, por se tratar de uma coisa tão pequena, se misturam o patético e o ridículo.

Por hoje é só.

Nota do Editor: o autor posta esta coluna no site www.correaneto.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Penso que esse “dar sem conta” possa se tornar extremamente perigoso para um político do PSOL que chega ao Senado Federal com expressiva votação no Amapá, mas acompanhado por uma direita maquiada com discurso de mudança pra-boi-dormir, que, na verdade, nem eles mesmos acreditam no que proclamam. Randolfe pode de herói dessa história, de uma hora pra outra, tornar-se vilão se a maquiagem do elenco da peça, protagonizada por Lucas Barreto, cair antes de 31 de outubro.

Humberto Lima