segunda-feira, 15 de junho de 2009

PORTUGUESES VÊM FILMAR MAZAGÃO

Em julho o Amapá recebe, vindo de Portugal, equipe de produção de cinema – são cinco ao todo, sendo quatro profissionais portugueses e um brasileiro – para dar continuidade às filmagens do projeto MAZAGÃO, iniciadas em julho de 2005. Eles estiveram em Mazagão estudando o ambiente e colhendo imagens da festa de São Tiago para a produção inicial de um programa piloto – agora vêm equipados e com o propósito de fazer as tomadas reais para o filme documental. “Chegaremos a Macapá no dia 14 de Julho para ficar até o dia 2 de Agosto, eu, o diretor de fotografia Jorge Quintela, o assistente de imagem e produção Ricardo Freitas e o técnico de som Pedro Pestana, para juntarmo-nos ao realizador e também produtor de cinema, o paraense Francisco Weyl que já se encontra em Belém”, escreve de Portugal o realizador Ricardo Leite. O filme, que vai misturar realidade com ficção, tem para os profissionais do audiovisual envolvidos no projeto o objetivo de promover o resgate de Mazagão para a História da Humanidade, o seu significado estratégico na consolidação política de expansão portuguesa no Norte da África, entre os séculos XVI e XVII, com destaque para a particularidade dos conflitos e das relações de inter-colonização e de miscigenação cultural e religiosa entre o povo português e o povo mulçumano, bem como entre portugueses, índios e africanos.
“Ao tomarmos como referência a representação histórica, política, social, religiosa e cultural de Mazagão para a construção de um processo fílmico, assumimos uma concepção da arte cinematográfica na sua grande dimensão estética, poética, mítica e dionisíaca: o conteúdo do filme Mazagão, profundamente histórico, será remetido ao campo simbólico. Neste sentido, Mazagão será um filme trágico, narrado na forma de um poema épico, necessariamente com recorrências às estruturas trágico-míticas das máscaras, potenciais condutoras das representações arquetípicas e sociais humanas, cujos elementos alegóricos ainda se fazem presentes na festa de São Tiago de Mazagão, cerimônia de caris religioso, que há mais de dois séculos reproduz os confrontos entre portugueses e mulçumanos no Norte da África.
O processo de construção deste filme documental será delimitado por esta representação e a sua narrativa será estruturada de forma a destacar este componente histórico-migratório de Mazagão, este povoado utópico e mítico, que existe no campo imaginário, atemporal e ageográfico, portanto, o não-lugar simbólico, um Portugal deslocado da África para o Brasil”, diz texto assinado pelo realizador Francisco Weyl, e publicado na edição 9 de Vanguarda (julho/2005).
A equipe tem também entrevistas gravadas com pesquisadores do Brasil, França Portugal e Marrocos, entre eles a professora Katy Motinha (Macapá), o arqueólogo Azzedine Karras (El Jadida) e o pesquisador francês Laurent Vidal. “Iremos, entretanto, entrevistá-los novamente, e incluir também outras conversas com os historiadores portugueses Augusto Ferreira do Amaral e Rafael Moreira, juntando a isso conversas com os mazaganistas e os mazaganenses. Será primordial recolher imagens de ambos e cruzá-las”, acrescenta, por e-mail, Ricardo Leite.
A ideia do documentário será adotar uma linguagem mais livre, não só para passar na televisão como também em sessões a ser realizadas em Mazagão Velho, El Jadida (antiga Mazagão) e também em vários Festivais e Mostras de Cinema do mundo. “A linguagem será por isso mais abrangente, pois é interesse nosso dar o retorno do filme às comunidades, porque elas são de resto parte primordial do filme, e, sem elas, não haveria interesse nem motivo para fazer este filme”, conclui o realizador português. A viagem da equipe para o Amapá tem apoio do Instituto Português Audiovisual (ICA). O projeto MAZAGÃO, inscrito e vencedor do concurso estatal do ICA, ganhou o direito de mandar a equipe portuguesa ao Brasil.

Foto: Helga Roessing

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