E A POLÊMICA SOBRE JE VOUS SALUE, MARIE
O castelo do último dos coronéis nordestinos, aos poucos, desmorona. Até a Rede Globo começa a lavar as mãos, não protege mais o senador maranhense e ex-presidente da República como antes. Dia desses assisti pelo Jornal Nacional reportagem sobre o mau exemplo desse político, atual presidente do Senado, que entra governo sai governo e ele sempre se dando bem. As meninas do Programa do Jô, na quarta-feira (20) também comentaram que “Sarney só vai ao Amapá duas vezes por ano e as pessoas de lá gostam dele (dizendo elas), porque Sarney impede que a Eletronorte cobre das Centrais Elétricas do Amapá (CEA) a dívida imensa que tem com a empresa estatal”. Sexta-feira passada (29) foi outro cacete no Programa do Jô. O ex-ministro da Justiça – Fernando Lyra – do Governo Sarney, que estava lá fazendo o lançamento do livro Daquilo que Eu Sei, foi questionado pelo Jô sobre o episódio da proibição no Brasil do filme Je Vous Salue, Marie, do grande Godard, no comecinho daquele governo. E Lyra não contou história, entregou de bandeja o censor: “Foi o Sarney que proibiu o que eu não proibi”. E ainda disse que colocou o cargo à disposição do presidente se tivesse que assumir aquela condição de censor. A questão é que tudo ficou abafado, porque o Zé Sarney – como diz o pessoal do CQC – abafa mesmo. Um dos capítulos do livro do Lyra é exatamente sobre a proibição do filme.
Lembro que, na época, o Caetano Veloso – sempre ele – soltou o verbo na sessão do Festival de Cinema do Rio de Janeiro, que tinha na programação a exibição do filme “vetada por ordens lá de cima”. Num país católico como o nosso, além da igreja, naturalmente, Sarney teve aliados. E quem, da área da música, se aliou ao censor Sarney? Ele, o rei Roberto Carlos! Mas Caetano, enfurecido com a proibição, não poupou nem um pouquinho o ídolo-amigo, conforme artigo escrito por ele e publicado na Folha de S. Paulo.
“O telegrama de Roberto Carlos a Sarney, congratulando-se com este pelo veto a Je Vous Salue, Marie, envergonha a nossa classe. (...) E agora insisto no assunto e convido meus colegas (ao menos os de música popular, para compensar a burrice de Roberto Carlos, já os cineastas estão todos unidos) a exigir do presidente uma revisão de sua posição, não é apenas por senso cívico (temos que ter um mínimo, banana!), mas, sobretudo, porque me sinto esteticamente comprometido com o filme. (...) Roberto Carlos teve problemas com os bispos, no início da carreira, por causa da inesquecível canção Quero que Vá Tudo para o Inferno. Parece que recebeu pressões para escrever Eu te Darei o Céu. Tais pressões o impressionaram demais. Todo mundo esqueceu? Vamos manter uma atitude de repúdio ao veto e de desprezo aos hipócritas e pusilânimes que o apóiam.”
Roberto Carlos, em entrevista ao jornalista Heber Fonseca (Jornal do Commercio, Recife, 22/04/1986), respondeu.
“Eu acho que o filme Je Vous Salue, Marie desrespeita a história sagrada, o sentimento cristão, o catolicismo. Enfim, as religiões de um modo geral. Caetano Veloso não gostou do meu ato, que mandei um telegrama ao presidente Sarney, apoiando a proibição do filme. Aliás, isso não me surpreende, porque é natural que ele pense diferente de mim. Mas achei que o artigo dele, na Folha de S. Paulo, foi deselegante. Mas o povo é contra o filme. Então, graças a Deus, a minha opinião é a opinião do povo.”
Convém lembrar que o povo não foi contra o filme, como disse Roberto Carlos, até porque, pela censura imposta Je Vous Salue, Marie não passou nos cinemas. E o filme – que, aliás, é lindo! – não tem nada demais (o próprio ex-ministro da Justiça disse isso no Jô). É a história de Maria, esposa de José e mãe de Jesus, adaptada para a era contemporânea pela visão do genial cineasta francês. Fizeram tempestade em copo d’água – claro, com o aval da igreja católica tradicionalista! O filme, inclusive, está disponível em DVD nas locadoras.
Lembro que, na época, o Caetano Veloso – sempre ele – soltou o verbo na sessão do Festival de Cinema do Rio de Janeiro, que tinha na programação a exibição do filme “vetada por ordens lá de cima”. Num país católico como o nosso, além da igreja, naturalmente, Sarney teve aliados. E quem, da área da música, se aliou ao censor Sarney? Ele, o rei Roberto Carlos! Mas Caetano, enfurecido com a proibição, não poupou nem um pouquinho o ídolo-amigo, conforme artigo escrito por ele e publicado na Folha de S. Paulo.
“O telegrama de Roberto Carlos a Sarney, congratulando-se com este pelo veto a Je Vous Salue, Marie, envergonha a nossa classe. (...) E agora insisto no assunto e convido meus colegas (ao menos os de música popular, para compensar a burrice de Roberto Carlos, já os cineastas estão todos unidos) a exigir do presidente uma revisão de sua posição, não é apenas por senso cívico (temos que ter um mínimo, banana!), mas, sobretudo, porque me sinto esteticamente comprometido com o filme. (...) Roberto Carlos teve problemas com os bispos, no início da carreira, por causa da inesquecível canção Quero que Vá Tudo para o Inferno. Parece que recebeu pressões para escrever Eu te Darei o Céu. Tais pressões o impressionaram demais. Todo mundo esqueceu? Vamos manter uma atitude de repúdio ao veto e de desprezo aos hipócritas e pusilânimes que o apóiam.”
Roberto Carlos, em entrevista ao jornalista Heber Fonseca (Jornal do Commercio, Recife, 22/04/1986), respondeu.
“Eu acho que o filme Je Vous Salue, Marie desrespeita a história sagrada, o sentimento cristão, o catolicismo. Enfim, as religiões de um modo geral. Caetano Veloso não gostou do meu ato, que mandei um telegrama ao presidente Sarney, apoiando a proibição do filme. Aliás, isso não me surpreende, porque é natural que ele pense diferente de mim. Mas achei que o artigo dele, na Folha de S. Paulo, foi deselegante. Mas o povo é contra o filme. Então, graças a Deus, a minha opinião é a opinião do povo.”
Convém lembrar que o povo não foi contra o filme, como disse Roberto Carlos, até porque, pela censura imposta Je Vous Salue, Marie não passou nos cinemas. E o filme – que, aliás, é lindo! – não tem nada demais (o próprio ex-ministro da Justiça disse isso no Jô). É a história de Maria, esposa de José e mãe de Jesus, adaptada para a era contemporânea pela visão do genial cineasta francês. Fizeram tempestade em copo d’água – claro, com o aval da igreja católica tradicionalista! O filme, inclusive, está disponível em DVD nas locadoras.
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