O presidente dos Estados Unidos Barack Obama falou ontem pela primeira vez à imprensa sobre Michael Jackson. Disse o presidente negro norteamericano: “Cresci ouvindo Michael Jackson e tenho todas as canções dele no meu iPod”.
É verdade o que diz Obama – não se trata de demagogia – e não é a primeira vez que ele se manifesta sobre música e Michael Jackson. Tenho a revista Rolling Stone – edição de julho/2008 – que Obama aparece na capa, quando ainda era candidato e estava em campanha rumo à presidência dos Estados Unidos. Com a declaração dele ontem sobre o rei do pop Michael Jackson, antecipo a seção de GRANDES ENTREVISTAS que serão postadas gradativamente aqui. Entrevistas especiais das mais qualificadas revistas do mundo, guardadas em arquivo que são minhas eleitas – e também as que eu mesmo fiz, ao longo desses seis anos, publicadas em Vanguarda Cultural. Vamos começar com o resumo da entrevista desse cara da pesada, hoje presidente do país mais poderoso do mundo, e que, a cada dia, dá bons e extraordinários exemplos para todos.
Políticos do país da Bossa Nova e da Tropicália, eis aí o cara...
ENTREVISTA CONCEDIDA A JANN S. WENNER / TRADUÇÃO: MATEUS POTUMATI
Rolling Stone: Bob Dylan acabou de lhe declarar apoio. O que isso significa?
Barack Obama: Ouvir Dylan e Bruce Springsteen dizendo palavras generosas a meu respeito é algo extraordinário, devo confessar. Esses homens são ícones.
Rolling Stone: Qual sua música favorita do Dylan?
Barack Obama: Tenho umas 30 dele no meu iPod. Acho que o Bloood on the Tracks (1974) está inteiro lá. Uma das minhas favoritas durante as prévias era “Maggie’s Farm”. Penso muito nela quando ouço o discurso de alguns políticos.
Rolling Stone: Três livros que realmente inspiraram você.
Barack Obama: Os Cânticos de Salomão, de Toni Morrison, as tragédias de William Shakespeare e provavelmente Por Quem os Sinos Dobram, de [Ernest] Hemingway.
Rolling Stone: Você conquistou apoio junto à comunidade musical. Por que essa reação foi tão forte?
Barack Obama: Músicos e pessoas criativas em geral são mais inclinados à idéia de mudança ou ao menos estão abertos a isso – não se conformam simplesmente com o que existe, pensam sempre no que pode vir a ser.
Rolling Stone: Enquanto você fazia a foto para a capa da Rolling Stone, a equipe colocou Grateful Dead para tocar e você reconheceu a música na hora.
Barack Obama: Esses caras fizeram um show para mim durante as primárias. E não só gosto da música, gosto deles como pessoas.
Rolling Stone: Será que teremos um deadhead (como são conhecidos os fãs de Grateful Dead) na Casa Branca?
Barack Obama: Não tenho certeza se me qualifico com deadhead – não uso roupas tie-dye e nunca segui a banda por aí. Mas gosto das músicas.
Rolling Stone: Você usou muito “The Rising”, do Bruce Springsteen, na campanha. Quem escolheu essa?
Barack Obama: Passamos por várias fases. Aretha [Franklin] esteve muito ali por um tempo, Stevie [Wonder]... sempre presente. Mas “Rising”, para nós, capturou o espírito que todos queriam.
Rolling Stone: Bruce declarou apoio a você de forma bem eloqüente. O que você acha dele e de seu trabalho?
Barack Obama: Não sou apenas fã da música dele: gosto de Bruce como pessoa. Ele é alguém que nunca se distanciou de suas raízes, que nunca fingiu ser outra coisa. Quando você pensa em autenticidade, pensa em Bruce Springsteen – e essa imagem que ele projeta pessoalmente. Na verdade, nós não nos conhecemos pessoalmente.
Rolling Stone: Ele me disse que você ligou.
Barack Obama: Nos falamos por telefone. E ele foi exatamente como eu esperava: apaixonado e humilde.
Rolling Stone: E você chamou ele de “The Boss” (“o Chefe”, como Springsteen é conhecido)?
Barack Obama: É claro.
Rolling Stone: O que você ouvia quando jovem?
Barack Obama: Meu gosto é muito eclético. Cresci nos anos 70, portanto minha base é o R&B e o pop daquela época: Stevie Wonder, Earth, Wind and Fire, Elton John, Rolling Stones.
Rolling Stone: Você tinha algum herói musical na época?
Barack Obama: Se eu tive um herói, foi Stevie Wonder. Tinha acabado de entrar naquela fase em que a gente começa a se interessar por música e ele lançou em seqüência Music of My Mind (1972), Talking Book (1972), Innervisions (1973), Fulfillingness’ First Finale (1974) e depois Songs in the Key of Life (1976). Essa foi uma das seqüências de discos mais brilhantes de todos os tempos. Eu amava ele, e amava os Stones.
Rolling Stone: O que você mais gosta dos Stones?
Barack Obama: “Gimme Shelter” é uma grande música.
Rolling Stone: O que tem no seu iPod?
Barack Obama: Quando estava no colegial, provavelmente no segundo ou terceiro ano, comecei a ouvir jazz. Tenho todos esses artistas de que já falamos também, e ainda tenho tudo de Howlin’Wolf a Yo-Yo Ma, de Sheryl Crow a Jay-Z.
Rolling Stone: O que você acha do rap? Acha injusto culparem o estilo por destruir valores familiares?
Barack Obama: Por definição o rock’n’roll é música de rebeldia, ou seja, se ele não for criticado, provavelmente não está fazendo seu trabalho. Às vezes me preocupo com a misoginia e o materialismo de várias letras de rap, mas acho que o espírito desse gênero mudou a cultura. A música era muito segregada nos anos 70 e 80 – você lembra que, quando a MTV surgiu, só foram tocar Michael Jackson depois de Thriller (1982). Conheço o Jay-Z, o Ludacris, o Russell Simmons. Conheço vários deles. São todos grandes talentos e grandes homens de negócio – o que algumas vezes não é muito enfatizado. Mas seria legal se minhas filhas pudessem ouvir a música deles à vontade e que eu tivesse a certeza de que elas não vão ficar com uma imagem ruim de si mesmas.
Rolling Stone: No geral, o que você acha da cultura pop hoje em dia? É uma influência nociva ou saudável?
Barack Obama: Não sou o tipo de pessoa que coloca toda a responsabilidade na cultura popular; ela ao mesmo tempo molda e reflete o que acontece no país como um todo. Mas tenho notado uma mudança na atitude dos jovens, que querem se envolver e se engajar mais, e a gente começa a ver isso se refletindo na música também. Toda vez que falo com o Jay-Z, que é um talento brilhante e um cara bacana, gosto da forma como ele pensa. Ele é sério e se importa com sua arte. É o tipo de pessoa que ainda vai crescer muito e pode ajudar a moldar atitudes de forma realmente positiva. Para mim, os artistas passam por fases. Eles começam expressando o que viveram e as histórias que têm para contar. Não estão necessariamente pensando em fazer manifestos para música. Com o passar do tempo, a visão de mundo deles se amplia, e sua música começa a expressar isso também.
É verdade o que diz Obama – não se trata de demagogia – e não é a primeira vez que ele se manifesta sobre música e Michael Jackson. Tenho a revista Rolling Stone – edição de julho/2008 – que Obama aparece na capa, quando ainda era candidato e estava em campanha rumo à presidência dos Estados Unidos. Com a declaração dele ontem sobre o rei do pop Michael Jackson, antecipo a seção de GRANDES ENTREVISTAS que serão postadas gradativamente aqui. Entrevistas especiais das mais qualificadas revistas do mundo, guardadas em arquivo que são minhas eleitas – e também as que eu mesmo fiz, ao longo desses seis anos, publicadas em Vanguarda Cultural. Vamos começar com o resumo da entrevista desse cara da pesada, hoje presidente do país mais poderoso do mundo, e que, a cada dia, dá bons e extraordinários exemplos para todos.
Políticos do país da Bossa Nova e da Tropicália, eis aí o cara...
ENTREVISTA CONCEDIDA A JANN S. WENNER / TRADUÇÃO: MATEUS POTUMATI
Rolling Stone: Bob Dylan acabou de lhe declarar apoio. O que isso significa?
Barack Obama: Ouvir Dylan e Bruce Springsteen dizendo palavras generosas a meu respeito é algo extraordinário, devo confessar. Esses homens são ícones.
Rolling Stone: Qual sua música favorita do Dylan?
Barack Obama: Tenho umas 30 dele no meu iPod. Acho que o Bloood on the Tracks (1974) está inteiro lá. Uma das minhas favoritas durante as prévias era “Maggie’s Farm”. Penso muito nela quando ouço o discurso de alguns políticos.
Rolling Stone: Três livros que realmente inspiraram você.
Barack Obama: Os Cânticos de Salomão, de Toni Morrison, as tragédias de William Shakespeare e provavelmente Por Quem os Sinos Dobram, de [Ernest] Hemingway.
Rolling Stone: Você conquistou apoio junto à comunidade musical. Por que essa reação foi tão forte?
Barack Obama: Músicos e pessoas criativas em geral são mais inclinados à idéia de mudança ou ao menos estão abertos a isso – não se conformam simplesmente com o que existe, pensam sempre no que pode vir a ser.
Rolling Stone: Enquanto você fazia a foto para a capa da Rolling Stone, a equipe colocou Grateful Dead para tocar e você reconheceu a música na hora.
Barack Obama: Esses caras fizeram um show para mim durante as primárias. E não só gosto da música, gosto deles como pessoas.
Rolling Stone: Será que teremos um deadhead (como são conhecidos os fãs de Grateful Dead) na Casa Branca?
Barack Obama: Não tenho certeza se me qualifico com deadhead – não uso roupas tie-dye e nunca segui a banda por aí. Mas gosto das músicas.
Rolling Stone: Você usou muito “The Rising”, do Bruce Springsteen, na campanha. Quem escolheu essa?
Barack Obama: Passamos por várias fases. Aretha [Franklin] esteve muito ali por um tempo, Stevie [Wonder]... sempre presente. Mas “Rising”, para nós, capturou o espírito que todos queriam.
Rolling Stone: Bruce declarou apoio a você de forma bem eloqüente. O que você acha dele e de seu trabalho?
Barack Obama: Não sou apenas fã da música dele: gosto de Bruce como pessoa. Ele é alguém que nunca se distanciou de suas raízes, que nunca fingiu ser outra coisa. Quando você pensa em autenticidade, pensa em Bruce Springsteen – e essa imagem que ele projeta pessoalmente. Na verdade, nós não nos conhecemos pessoalmente.
Rolling Stone: Ele me disse que você ligou.
Barack Obama: Nos falamos por telefone. E ele foi exatamente como eu esperava: apaixonado e humilde.
Rolling Stone: E você chamou ele de “The Boss” (“o Chefe”, como Springsteen é conhecido)?
Barack Obama: É claro.
Rolling Stone: O que você ouvia quando jovem?
Barack Obama: Meu gosto é muito eclético. Cresci nos anos 70, portanto minha base é o R&B e o pop daquela época: Stevie Wonder, Earth, Wind and Fire, Elton John, Rolling Stones.
Rolling Stone: Você tinha algum herói musical na época?
Barack Obama: Se eu tive um herói, foi Stevie Wonder. Tinha acabado de entrar naquela fase em que a gente começa a se interessar por música e ele lançou em seqüência Music of My Mind (1972), Talking Book (1972), Innervisions (1973), Fulfillingness’ First Finale (1974) e depois Songs in the Key of Life (1976). Essa foi uma das seqüências de discos mais brilhantes de todos os tempos. Eu amava ele, e amava os Stones.
Rolling Stone: O que você mais gosta dos Stones?
Barack Obama: “Gimme Shelter” é uma grande música.
Rolling Stone: O que tem no seu iPod?
Barack Obama: Quando estava no colegial, provavelmente no segundo ou terceiro ano, comecei a ouvir jazz. Tenho todos esses artistas de que já falamos também, e ainda tenho tudo de Howlin’Wolf a Yo-Yo Ma, de Sheryl Crow a Jay-Z.
Rolling Stone: O que você acha do rap? Acha injusto culparem o estilo por destruir valores familiares?
Barack Obama: Por definição o rock’n’roll é música de rebeldia, ou seja, se ele não for criticado, provavelmente não está fazendo seu trabalho. Às vezes me preocupo com a misoginia e o materialismo de várias letras de rap, mas acho que o espírito desse gênero mudou a cultura. A música era muito segregada nos anos 70 e 80 – você lembra que, quando a MTV surgiu, só foram tocar Michael Jackson depois de Thriller (1982). Conheço o Jay-Z, o Ludacris, o Russell Simmons. Conheço vários deles. São todos grandes talentos e grandes homens de negócio – o que algumas vezes não é muito enfatizado. Mas seria legal se minhas filhas pudessem ouvir a música deles à vontade e que eu tivesse a certeza de que elas não vão ficar com uma imagem ruim de si mesmas.
Rolling Stone: No geral, o que você acha da cultura pop hoje em dia? É uma influência nociva ou saudável?
Barack Obama: Não sou o tipo de pessoa que coloca toda a responsabilidade na cultura popular; ela ao mesmo tempo molda e reflete o que acontece no país como um todo. Mas tenho notado uma mudança na atitude dos jovens, que querem se envolver e se engajar mais, e a gente começa a ver isso se refletindo na música também. Toda vez que falo com o Jay-Z, que é um talento brilhante e um cara bacana, gosto da forma como ele pensa. Ele é sério e se importa com sua arte. É o tipo de pessoa que ainda vai crescer muito e pode ajudar a moldar atitudes de forma realmente positiva. Para mim, os artistas passam por fases. Eles começam expressando o que viveram e as histórias que têm para contar. Não estão necessariamente pensando em fazer manifestos para música. Com o passar do tempo, a visão de mundo deles se amplia, e sua música começa a expressar isso também.
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