quinta-feira, 15 de abril de 2010

VAGUARDA RETROSPECTIVA


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O compositor/cantor Sérgio Sales lançou na quarta-feira (14), no hall do Teatro das Bacabeiras, a segunda edição de seu livro Treze e outros contos. Com nova capa e ampliada (a edição sai com três novos contos), a obra pode ser adquirida na banca do Dorimar (Praça Veiga Cabral) ou com o próprio autor, aonde quer que ele esteja se apresentando na noite.
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Quando do lançamento da primeira edição, em setembro de 2006, Vanguarda Cultural publicou resenha assinada pelo jornalista e escritor Emanoel Reis. A resenha saiu na edição nº 10 de Vanguarda.
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BÁLSAMO PARA ALMAS CANSADAS
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Emanoel Reis
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Não é fácil contar histórias de forma tão reduzida. Ainda mais recheá-las de simbolismos facilmente absorvidos pelo leitor. Assim é o conto, a arte de apreender, pelas palavras, momentos do cotidiano que somente a fotografia consegue fazer tão bem. O conto deve ser assim: simples sem ser simplório, profundo sem se tornar excessivamente abismal e espirituoso sem enveredar para o vulgo.
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O compositor e cantor Sérgio Sales lança “Treze e Outros Contos”. Ainda não se considera um contista. No entanto, pela simplicidade da construção de suas histórias alcança o objetivo de transmitir lições de vida sem aquele ar professoral próprio dos intelectuais de axila, contumazes reverberadores de frases feitas, cujo verniz cultural não resiste à solidez de nenhum contra-argumento.
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Serginho é músico de calçada, dos palcos improvisados nas churrascarias, nos bares da beira-rio. Serginho canta nas inesquecíveis noites enluaradas de Macapá. Canta com o coração canções sobre amores mal resolvidos, amores correspondidos, amores momentâneos surgidos e ressurgidos entre um trago e outro, entre uma baforada e outra. Serginho é músico e canta todas as belas canções dos nossos corações. Com naturalidade.
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“Treze e Outros Contos” é Sérgio Sales, não pelos acordes do inseparável violão. Mas, pelas letras paridas de dedos ansiosos em contar histórias de outras noites, de cidades distantes, de personagens envoltos em fortes lembranças. É livro de observador calejado, de quem espia pelas gretas da vida – e compreende nas entrelinhas – o passar do corriqueiro. É livro de quem consegue extrair das situações mais comezinhas ensinamentos de amplos significados.
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Somente os iluminados conseguem triturar o trivial para obter dele o verdadeiro sumo da vida (simplicidade) para revertê-lo na arte de fazer, promover e disseminar o bem. Com “Treze e Outros Contos”, Sérgio João de Araújo Sales busca condensar 50 anos de vida em 70 páginas – e o faz daquele jeito todo próprio dele.
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O conto inicial da primeira obra literária de Sérgio Sales, ‘Os balões”, é o reflexo do lúdico. Balões estão presentes em todas as memórias e reportam a instantes de alegria, de confraternização, de comemoração. O compositor, cantor e – queira ou não – o agora contista Sérgio Sales faz o leitor ser transportado para um cenário de faz-de-conta próprio de quem mantém viva a criança em si.
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Os contos sequentes revelam um escritor nascituro. Em trânsito por estilos diversos, à busca de uma identidade com a arte de transformar letras em palavras, e estas em frases e parágrafos revestidos de beleza singular. Podem ser “devorados” numa manhã de qualquer tempo (sol, chuva, quente, frio, seco, úmido), o efeito balsâmico é o mesmo em qualquer alma. “Treze e Outros Contos” de Sérgio Sales não é livro de cabeceira. É para ser guardado no coração.

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