quinta-feira, 22 de abril de 2010

MANIFESTO DO MOVIMENTO EQUINÓCIO


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Uma odisséia nos trópicos
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Aroldo Pedrosa
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Acordei de manhãzinha
Ouvindo uma canção dos Beatles.
Não dormia na calçada do Central Park em Nova York.
Não vivia o exílio na fria e cinzenta Londres.
Nem passeava de cruzeiro pelo Porto de Liverpool.
Acordei ouvindo no rádio Sargent Pepper’s,
Longe do horário britânico, numa rede preguiçosa entre os trópicos.
Sonhava com os anjos dos anos rebeldes:
Jimi Hendrix, Joe Cocker, Bob Dylan, Janis Joplin.
Em meio ao peace and love hippie, um Waiãpi em Woodstock.
Ao acordar com Beatles, pensei: o sonho não acabou.
E me agasalhei de novo sob o cobertor.
Na linha imaginária do equador,
A ninar o curumim Lucy in the Sky with diamonds.
É setembro, 23, quando o dia e a noite são iguais.
Caiu o muro, abriu-se a cortina de ferro...
Mas Guevara permanece vivo entre nós.
É proibido proibir calara para sempre os generais
E o espetáculo do Sol com a Terra pode assim ser visto.
Me põe em cada olho uma gota de colírio
Que a hora é de acordar para um outro sonho.
O sonho do Equinócio.
Turistas, cientistas, artistas, alquimistas, curiosos...
Há um monumento na encruzilhada da vereda tropical!
A Bossa Nova, a Tropicália, a Vanguarda Paulista...
Evoé! Jovens à vista, juntos para ver de perto o fenômeno.
Mas quem é o cara estranho que vem vindo lá?
É um sonho dantesco: o bruxo Paulo Coelho...
Veio escrever sobre a linha o último romance.
Equinócio – no ponto eqüidistante.
No grande caldeirão a mistura é underground:
A comida pulando de Oswald, o cinema de Glauber falado de novo.
Berimbau e batuque, Panis et circensis, marabaixo e Terra em transe.
O Rei da Vela no Bar Caboclo, João Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Coca-cola & guaraná é pouco!
Ora, então tome Tonico & Tinoco!
Chico Science, ao som dos maracatus, segura no céu o porta-estandarte.
Jorge Mautner, de guarda-chuva, lendo Nietzsche, dança o zouk-love.
Chega de saudade! Você me dá sorte!
Sob a batuta de Júlio Medaglia e a Filarmônica de Manaus,
Fafá de Belém e o velho comunista cantam o Hino Nacional.
Roberto Carlos e Carlinhos Brown!
Arnaldo Antunes e Hermeto Pascoal!
Gabeira – O que é isso, companheiro? – planta bananeira,
Uma roseira de rosas vermelhas e outras coisas no quintal.
Hostyano, à sombra da samaumeira,
Pinta numa tela o sete de uma nova aquarela.
Carmem Miranda e as brasileiras Bachianas.
O beijo fulminante do Corisco na Mulher-Aranha.
Joãozinho Gomes e Chico Buarque de Holanda.
Camisinhas da jontex distribuídas por voluntários do antigo Dops.
Felinas da América latina no cio, em contravenção, chupam drops.
Enquanto isso em Gotham City, ele mais o seu broto...
Bebem no McDonald’s uma boa água de coco.
Viva a Morena! Iracema e a Garota de Ipanema!
E aquela criança, “sorridente, feia e morta” não morreu.
Sobreviveu, cresceu...
Eis ali de punhos cerrados, líder de uma legião de famintos,
Marchando sobre a planície e o planalto,
Em busca da terra que Jesus prometeu, que Jesus prometeu...
Tudo numa festa homérica-profana,
Regada à gengibirra e muita música baiana.
Salve o boi-bumbá da ilha de São Luís!
Viva o bumba-meu-boi da ilha de Parintins!
No monumento, o papa reza a missa santa.
No sambódromo, a mulata samba e é só alegria.
Joãosinho Trinta: Ratos e urubus, larguem minha fantasia!
E os olhos de Carolina,
Depois de examinar a folia e se encher de cores,
Procuram por discos voadores no céu...
Mas o que vêem? Louise, já moça – que fantástico!
A brincar de ciência, de experiência com Dolly no Planetário.
Viver é “Nóbrega”. É assim meio nobre...
Quando o nó se desata, aí não tem jeito, fica assim meio brega.
Chico Mendes, Capiberibe e Darcy Ribeiro:
Viva, viva o povo brasileiro!
E lá vem o Sol, o Sol e a Rede Globo...
Flamengo, Fluminense, oh meu glorioso São José!
Ypiranga e Botafogo.
A trupe do hip-hop apresenta o rap pela internet.
E em tempo de globalização do tchan...
Pindorama assiste de óculos rayban ao Equinócio.
Lúcia no céu com diamantes.
E o século 21, baby, será dos trópicos!
E o século 21, baby, será dos trópicos!

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