terça-feira, 10 de novembro de 2009

A CARTA DE CAETANO

AE - Agencia Estado
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Em entrevista a Sonia Racy, no Caderno 2 do Estado, no último dia 2, o compositor Caetano Veloso se referiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva com expressões como “analfabeto”, “cafona” e “grosseiro” ao anunciar preferência pela eventual candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência. “Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”, disse na entrevista.
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A declaração provocou reações no meio político. Na última sexta-feira, o próprio Lula reagiu: “Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro do que isso”. Leia abaixo a que o cantor enviou à redação:
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“O que mais me impressiona é as pessoas reagirem diante da manchete do jornal, tal como ela foi armada para criar briga, sem sequer parecerem ter lido o trecho da entrevista de onde ela foi tirada. É um país de analfabetos? A intenção sensacionalista da edição tem êxito inconteste com os leitores. Pobres de nós.
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Sonia Racy sabe que eu ressaltei essa diferença entre Lula e Marina para explicar porque eu dizia que ela é também um fenômeno tipo Obama (coisa que Racy e Nelson Motta não entenderam). Marina é Lula (a biografia) e é Obama (a cor escura e o modo elegante e correto de falar - e escrever). Li aqui que Lula disse que é burrice minha dizer isso. É. Serve para Berzoini contar alegremente votos migrando de Serra ou Aécio para Marina, não de Dilma.
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Ainda mais que toca nesse ponto óbvio (que para mim tem todas as vantagens e desvantagens, não sendo um aspecto meramente negativo) da fala pouco instruída e frequentemente grosseira e cafona de Lula. Todos sabem disso. Ele próprio se vangloria. Os linguistas aplaudem. E todos têm razão: ele é forte inclusive por isso. Fala “bem”: atinge a maioria dos ouvintes.
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Sua fala tem competência - e ele, como eu próprio disse na entrevista, é um governante importante. Mundialmente está reconhecido como alguém que chegou lá e foi além do esperado. Quisera Obama estar na mesma situação. Querer dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente. Simbolicamente ao menos.
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Não creio que ela seria um entrave às pesquisas de células-tronco e à união civil de homossexuais. Se for, eu estarei aqui para me opor a ela. Aborto, união gay, embriões são matéria do Legislativo. O executivo pode influir? Pode. Mas Marina seria uma presidente do tipo autoritário? Não creio. Criacionismo? Ela jamais cairia na confusão de ensino religioso com ensino científico. Ela é racional, atenta, dialoga com calma. Todos esses assuntos podemos debater com ela como com ninguém: ao menos estaremos certos de que ela não será hipócrita.
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Se houver candidatura e campanha, teremos tempo para isso. Não penso tanto como Marina sobre a Amazônia. Penso mais como Mangabeira. Já disse. Mas forças políticas surgem assim. Marina chegar a ser candidata é notícia grande. Não posso fingir que não é. E detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula. Não estamos na União Soviética. Eu não disse nenhuma novidade. Nem considero ofensivo. É descritivo. E a motivação era esclarecer a parecença de Marina com Obama (que me interessa muito). E todos os entendidos me dizem que os banqueiros estão com medo é de Serra: adoram Lula.
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Então por que a demagogia de dizer que FH era pelos de poder aquisitivo? Até os programas sociais que Lula desenvolveu nasceram no governo FH. O Fome Zero naufragou. Eles se voltaram, espertamente (e felizmente), para o Bolsa-Escola de dona Ruth. Eu ter mencionado a fala analfabeta de Lula não é bom para a campanha de Marina. Mas ainda não estamos em campanha. Eu acho.”

2 comentários:

Ori Fonseca disse...

Caetano pode justificar como quiser, mas a sua fala é a de um preconceituoso. Infelizmente!

Editorial disse...

Lula respondendo a Caetano - embora sem citá-lo - disse: “Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro do que isso”. Ou seja, Lula chama o "gênio tropicalista da raça" sutilmente de "burro". É um direito que assiste ao presidente. A questão é que a imprensa brasileira gosta muito disso, principalmente quando se trata de Caetano, que não se cala nunca: "E detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula. Não estamos na União Soviética. Eu não disse nenhuma novidade. Nem considero ofensivo. É descritivo. E a motivação era esclarecer a parecença de Marina com Obama (que me interessa muito)". Ou seja, fazendo no tempo - que é um dos deuses mais lindo - soar sua sílaba. Tem um outro texto abaixo neste blog que é sobre patrulhamento: "Patrulharam Caetano, de novo". Porque que é sempre com ele? Por que a imprensa não faz isso com o Chico que, diante desse cenário todo, não dá uma palavra, apenas vê a banda passar?! O "politizado Chico", a "unanimidade Chico", o "Chico que é melhor que Caetano", e outras inúteis e desnecessárias comparações. Faço essas colocações, mas penso que é também direito do Chico se manifestar sobre as questões do Brasil quando bem entender. Gosto, porém, imensamente da inquietação de Caetano quando se manifesta porque ele agita o cenário nacional, provoca discussões. Na minha modesta opinião, o mais interessante da entrevista com o criador da Tropicália (que tiraram o enfoque), foi a antecipação da intenção de voto dele na doce senadora da floresta Marina Silva para presidente da República em 2010. Gente lavando roupa/ Amassando pão/ Gente pobre arrancando a vida com a mão/ No coração da mata gente quer prosseguir/ Quer durar quer crescer/ Gente quer luzir... A propósito, assim como Marina, vejo o Lula também nesta letra... E não há força capaz de mudar isso!