quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O JOIO DO TRIGO


Aroldo Pedrosa
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O professor Bruno me escreve carta de Belo Horizonte. O missivista foi colaborador de Vanguarda Cultural, quando morou aqui em Macapá e era meu vizinho de vila. Bruno foi professor da rede estadual de ensino e, pouco antes de voltar para o seu estado de origem (Minas Gerais), deu aulas de literatura na Escola Estadual de Integração, ali da Avenida FAB. Na época escreveu e me mostrou contundente artigo sobre as mazelas do meio do mundo – “Afogados nessa pororoca até as narinas” –, que publiquei em uma das primeiras edições de minha revista, e que posto agora aqui sob recomendação de que o navegador desta nave não deixe de ler – até para compreender melhor o contexto de nossa prosa.
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O texto escrito a foice, de Bruno, que não poupava ninguém, me encheu os olhos. Estava ali o cara com uma arma de palavras afiadas em punho que tanto precisávamos para mostrar há que viemos. Mas foi o único artigo do Bruno, que também escreve em alemão.
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E aí os anos foram se passando até chegar às eleições de 2006. Na disputa para a única vaga no Senado e com a diferença de 5% dos votos apenas para o segundo lugar (a candidata socialista e negra Cristina Almeida) os “Afogados nessa pororoca até as narinas” conduziram o maranhense José Sarney para o cumprimento de mais oito anos àquela Casa de Leis, e, para a minha estonteante surpresa, com o voto do professor mineiro. “Meu voto foi para o grande estadista que ele é”, tentou justificar a contradição, exatamente com essas palavras, quando lhe perguntei.
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Agora, depois de ver emergir o monstro da lagoa, ele me escreve carta simpaticíssima, elogiando esse meu (segundo ele) “engajamento coerente, dentro de uma visão estética e política bem definidas”, mas acrescentando de que (sic) até gosta de sua “incapacidade” de confiar totalmente em alguém, e, muito menos idolatrar.
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Há pessoas diferentes no mundo, e é preciso que saibamos diferenciá-las, separá-las... como se separa o joio do trigo. E Jesus Cristo, então... pelo amor de Deus, nem se fala!

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