quinta-feira, 11 de março de 2010

ENTREVISTA COM CHICO CÉSAR

Chico César: "O principal problema da cultura é a falta de verba"
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Lúcio Flávio
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Assim como José Wilker e Gilberto Gil, o cantor e compositor paraibano Chico César decidiu abrir espaço em sua vida de artista e dedicar parte do tempo ao outro lado da cultura: o administrativo. Desde maio de 2009 secretário da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), o autor de sucessos como Mama África e A primeira vista tem mergulhado a fundo nos meandros governamentais da área no país. O diagnóstico que faz não é dos mais animadores. “O Brasil precisa sair dessa idade média cultural”, decreta. Um dos convidados da 2ª Conferência Nacional de Cultura, evento que reúne até domingo, representantes de diversos pontos do país numa ampla discussão sobre as novas diretrizes para a política no setor, o artista se diz aberto a debates e propostas. “Vamos levar algumas questões que têm a ver com o acesso à cultura, mas obviamente ouvir as sugestões e as demandas do país todo do setor e nos integrarmos à elas”, avisa.
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Animado com a política de democratização ao acesso da produção artística promovida pelo governo Lula, diz que o maior problema da cultura é a falta de verbas e que a lei de direito autoral precisa ser amplamente discutida. “Quando eu puder ir à Fnac e sair de lá com um iPod sem pagar, aí libero Mama África de graça para todo mundo”, ironiza.
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Correio Brasiliense: O que o senhor acha de iniciativas como essas da Conferência Nacional de Cultura?
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Chico César: Acho que o Brasil, a partir do governo Lula, da gestão do ministro Gil, que desaguou na gestão do ministro Juca, promoveu uma discussão profunda sobre a questão cultural, a acessibilidade aos recursos que são destinados à cultura. Isso criou, obviamente, uma resistência nos setores mais conservadores que estavam se beneficiando com o modelo anterior, de certa forma ainda praticado, que é esse modelo de balcão de favores ou de negócios.
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Correio Brasiliense: A reforma da Lei Roaunet tramita no Congresso Nacional no momento. As mudanças eram pertinentes?
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Chico César: Tinha que mudar completamente, radicalmente, nós vivíamos uma situação de apropriação indébita, de algo que é de todos por um grupo. Era vergonhoso o modo como se praticava. Muitas medidas como o Vale Cultura e o Mais Cultura, que o governo federal já coloca em prática com os governos estaduais e municipais, dentro desse espaço federativo, são exemplos de avanço. É importante que os senadores e deputados entendam a necessidade de o Brasil sair dessa idade média cultural. É importante que a iniciativa privada continue participando mais, que a prática da renúncia fiscal continue. É importante que o empresariado coloque o dinheiro dele mesmo, dos seus próprios lucros.
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Correio Brasiliense: Na opinião do senhor, quais são os principais problemas enfrentados pela cultura no Brasil?
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Chico César: O principal problema é a falta de verba e que os governos estaduais, municipais e até federais adotem um percentual mínimo de acordo com o tanto de recurso que a cultura gera. A cultura é um produto que gera muita riqueza no Brasil, a parte que os governos investem nesse segmento é pequena, ínfima. É importante ter uma cota mínima nessas três esferas. Depois, é um equívoco pensar que a política cultural é feita para os artistas e não para sociedade.

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